"Um Pai de Fones de Ouvido" - Dia dos Pais
A ausência paterna não trata, necessariamente, de uma ausência física.
Os impactos da figura paterna no desenvolvimento psíquico das filhas/os têm sido um aspecto pouco abordado na literatura (junguiana e quando falamos de transtornos alimentares), especialmente quando comparado com a figura materna.
Papai deixou-me com memórias escassas, com um buraco queimando a boca do estômago, com lembranças que aos poucos foram me confundindo. - Livro FaminTA de Tatiana Cavalcante
O pai desempenha um papel essencial no desenvolvimento da personalidade e identidade dos filhos, por isso é tão importante que possamos convocá-los a participar mais do tratamento de um Transtorno Alimentar.
Além de auxiliar no tratamento, a presença do pai abre a possibilidade para questionar e modificar as dinâmicas que perpetuam e dão manutenção ao TA.
É notável que, na maior parte das vezes, é a mãe que busca ajuda e acompanha a filha ou filho no tratamento.
Geralmente, se tratando da relação pai-filha, observa-se que, em casos de filhas com T. A., esse pai é mais ausente, tanto presencialmente quanto afetivamente.
A ausência paterna não trata, necessariamente, de uma ausência física.
Um exemplo da ausência paterna é mostrado na série Sharp Objects (objetos cortantes) da HBO - uma das minhas favoritas e já indiquei por aqui.
Autolesão, abuso de substâncias, emaranhamento mãe-filha, ausência paterna e a sombra familiar são alguns dos temas abordados.
Na série o pai parece alheio a tudo que acontece na casa. Fica na sala ouvindo música, aumentando o som e colocando fone de ouvido.
Quando o barulho externo é tão grande é melhor ficar de fone de ouvido, não? É assim que essa figura paterna se coloca (ou melhor, não se coloca).
Trata-se de uma pai que aumenta o som para não escutar o que sua família comunica, os ruídos familiares.
Ele silencia perante os conflitos familiares absurdos.
Não protege, nem interdita/separa a simbiose mãe-filha, sendo conivente com os abusos maternos.
A culpa não é do pai, nem da mãe…
De maneira nenhuma, devemos culpabilizar pais e mães. Pelo contrário, eles são importantes aliados no tratamento de um Transtorno Alimentar. Como profissionais da saúde devemos convocá-los a participar do tratamento.
A etiologia de um transtorno alimentar é complexa e MULTIFATORIAL! Logo o desenvolvimento de um TA depende de uma série de fatores! Por isso não é apropriado atribuir a responsabilidade a um único fator ou indivíduo.
Indicação de Leituras sobre PAI
O efeito da ausência do pai nas filhas: Desejo paterno, ferida paterna - Susan E. Schwartz
Segue o vídeo da autora em uma aula falando sobre o livro:
A Mulher Ferida - Linda Leonard
PALAVRAS, M. A. . Transtornos alimentares: desta vez é o pai em questão!. Cadernos Junguianos , v. 12, p. 140, 2016.
Filhas de pai, filhos de mãe: Complexos de pai e mãe e caminhos para a identidade própria - Verena Kast
Esse último, nos estamos discutindo no grupo de estudos em transtornos alimentares na abordagem junguiana.
Segue o vídeo da autora em uma aula falando sobre o livro:
Dois filmes que abordam a relação Pai e Filho!
Beautiful Boy
Um Filho