Bulimia & Comportamentos Compensatórios
"Minha mãe diz que vomito para não engordar, mas a verdade é que não posso suportar tudo aquilo dentro de mim.”
A bulimia é um transtorno alimentar em que a pessoa tem episódios recorrentes de ingestão excessiva de alimentos, seguido por comportamentos compensatórios para evitar o ganho de peso.
Os comportamentos compensatórios são uma tentativa - ineficaz e ilusória - de neutralizar os efeitos da ingestão excessiva de alimentos, mas acabam perpetuando o ciclo vicioso da bulimia.
Posteriormente, esses comportamentos compensatórios podem aparecer até mesmo sem a presença de um descontrole alimentar anterior, servindo como mecanismo de alívio de tensão e autoregulação emocional.
Eles podem levar a problemas físicos, como desidratação, desequilíbrio eletrolítico, lesões na garganta e nos dentes, além de aumentar o risco de transtornos alimentares e outras condições de saúde mental.
Gravidade dos comportamentos compensatórios:
LEVE: 1 a 3 episódios de comportamentos compensatórios por semana;
MODERADA: 4 a 7 episódios de comportamentos compensatórios por semana;
GRAVE: 8 a 13 episódios de comportamentos compensatórios por semana;
EXTREMA: 14 ou mais episódios de comportamentos compensatórios por semana;
“A autoestima está baixa e você se sente sem valor. Você enche o estômago quatro ou cinco vezes por dia, talvez mais, e isso te conforta. Mas é só temporário. Depois, você sente nojo do seu estômago e põe para fora. É repetitivo e destrutivo…”
Baixa autoestima, solidão, pressão estética e perfeccionismo, temas recorrentes na vida da Lady Di, assim como na vida de tantas pessoas que sofrem de um transtorno alimentar.
Diferença entre ANOREXIA PURGATIVA & BULIMIA:
Ambas se utilizam de métodos purgativos, entretanto, na anorexia nervosa (TÍPICA) o IMC necessariamente tem que indicar desnutrição (seguindo aquela tabelinha do IMC da OMS).
Lembrando que SOZINHO o baixo peso não é critério para diagnóstico de AN. É necessário outros como: medo intenso de ganho de peso ou comportamento persistente para que interfere no ganho de peso e perturbação no modo como peso/forma/tamanho influenciam a pessoa.
Até porque nem toda pessoa com baixo peso tem anorexia!
Enquanto que na bulimia nervosa, o IMC pode estar eutrófico, com sobrepeso ou obesidade. (Lembrando que o IMC não é critério diagnóstico na bulimia, mas trouxe para aqui para mostrar a diferença da AN e como o peso se distribui na população com esse quadro).
Na bulimia os principais critérios são compulsão alimentar + comportamento compensatório. Mas em suma, digamos que a principal diferença é o peso.
Não é incomum que a paciente transite entre anorexia purgativa e bulimia.
Entretanto, em termos psicodinâmicos, é muito mais difícil uma pessoa com anorexia restritiva transite para uma bulimia nervosa.
Isto porque a bulimia nervosa e anorexia purgativa apresentam maior traço de impulsividade e a anorexia restritiva uma característica mais obsessiva e rígida.
Os atos impulsivos, intimamente relacionados ao descontrole alimentar e comportamentos compensatórios, intensificam as emoções (em especial, explosões de raiva).
O modo intenso de viver de uma pessoa com bulimia afeta todas suas ações, ocasionando um comportamento tudo ou nada, 8 ou 80, estar totalmente no controle ou fora dele.
A busca do alívio para explosões emocionais e sensação de “sujeira interna” pelo alimento ingerido culmina nos comportamentos compensatórios, os quais irão supostamente “purificar” o indivíduo.
Esses traços também podem estar presentes na anorexia purgativa.
"Minha mãe diz que vomito para não engordar, mas a verdade é que não posso suportar tudo aquilo dentro de mim.” - Paciente
Os comportamentos purgativos falam de algo muito além da estética.
Se aquilo que foi ingerido simbolicamente não pode ser suportado, integrado, assimilado e digerido, ele é ativamente ejetado, rejeitado, lançado de volta.
Voltando a falar sobre a Lady Di…
Deixo aqui uma dica de filme:
O filme retrata um período da vida de Lady Di. Ela teve bulimia nervosa, a qual se iniciou logo após o noivado com o Príncipe Charles e um comentário feito por ele sobre sua aparência!
É evidente que a problemática alimentar está muito associada às questões conjugais. O símbolo é o colar/coleira que o príncipe presenteia Lady Di (e também sua amante).
Um colega - @dinhofreitaspsi - destacou muito bem como o ritmo militar da cozinha e comida (armazenadas em caixas que mais parecem de armas) denunciam o comer como pouco afetivo/acolhedor.
No filme fica bem claro como na frente das pessoas ela não comia (uma queixa bem recorrente em pessoa com TA: não se sentir confortável para comer na frente das pessoas).
Para depois sozinha se descontrolar com a comida.
O que é muito sintônico com a solidão que ela sentia (que nenhuma comida no mundo é capaz de preencher) e a frieza das relações (no próprio filme a casa onde ficaram não permitiam que ligassem a calefação e ficavam passando frio).
Além da sensação de aprisionamento e falta de controle sobre a vida (não podia nem escolher o que vestir).
Ela se sentia deslocada, perdida (o começo do filme é com ela perdida sem encontrar a casa) e não se encaixando (nas roupas e na vida).
O ápice da impotência se da no ato de autolesão! “Ao menos isso eu posso controlar,” “eu existo”, “eu sinto” “eu exteriorizo minha dor que não pode ser dita, apenas vomitada”!
Já assistiu Spencer?
Tem alguma dúvida sobre bulimia e comportamentos compensatórios?
Vamos conversar nos comentários! 🌻