Há alguns dias fiz esse post no meu Instagram, comentando sobre o filme “O Milagre” e a ligação de alguns símbolos com o livro “Holy Anorexia”. Tiveram tantos comentários interessantes, que achei pertinente trazer essa discussão, de forma mais aprofundada, pra cá!
Difícil assistir o filme e não pensar em livros como o “Holy Anorexia” (Anorexia Sagrada), o qual descreve um fenômeno histórico em que algumas mulheres religiosas, conhecidas como santas, demonstravam sua devoção a Deus através da negação extrema do corpo, incluindo a recusa de comida.
Catarina de Siena é frequentemente citada como um exemplo disso.
A personagem principal: Anna (Interessante o nome dela, não?!) usa o próprio corpo como um meio de expiação ou sacrifício em busca de uma ligação espiritual ou purificação.
O pacto com a mãe (mãe-passarinho que dá comida para a filha na boca) e com o pai (ausente, que compactua) alimenta a crença de que o sofrimento físico pode levar à redenção e expiação da culpa familiar..
Busca da redenção via dor, como disse Liliana Wahba.
O corpo profanado deve ser eliminado… Embora exerça grande fascínio nas pessoas (vinham de longe e pagavam). Muito semelhante ao que ainda hoje essa patologia exerce nas pessoas, as quais elogiam, dão likes, engajamento...
A imagem do passarinho livre ou aprisionado me chamou muita atenção também! A imagem do pássaro evoca a transcendência (espírito x corpo) e a gaiola o transtorno alimentar/trauma.
Assisti uma palestra na Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica e a Profª Liliana Wahba fez uma análise sobre o filme também!
Anotei os seguintes pontos:
Liliana chamou nossa atenção para as cores do vestido, especialmente das duas protagonistas. A Anna, por exemplo, sai do amarelo claro para o vermelho. Seria uma saída do mundo infantil, com pouco contato com sua sexualidade, para entrada no mundo adulto/mulher (?). Acessando sua sexualidade de outra forma;
As pessoas (como Elizabeth) comem como obrigação, como um contraponto: Eu estou viva, comendo. Mas não há prazer;
Anna está como o paciente identificado - depositaria da questão familiar;
Há um incesto com o irmão, mas também com a mãe.
Passarinho na gaiola - trauma, aprisionamento, culpa;
Cita o texto Luto e Melancolia do Freud - Melancolia consiste em luto pela perda. Corpo é um definhar que leva ao não existir. Gira em torno de algo que foi perdido. Perda do corpo infantil. Luto pelo não existir em corpo. Está inscrita no corpo;
Regressão indiferenciada ao complexo materno;
Cita as Santas com anorexia;
Busca perfeição via espiritualidade - Mártir;
Narcisismo à estética dos dias atuais;
Comentários:
“Assim que vi o filme me lembrei do livro do dr. Taki "do altar às passarelas". Achei o filme muito interessante e o final emocionante, nos leva a lembrar da importância da rede de apoio!”
"Também achei cheio de simbolismos esse filme. Tanto neste quanto no "o mínimo para viver" tem um cena extrema, em que estão quase mortas e estão deitadas na terra. Como vai aquele que morre assim como a semente.”
“Com a necessidade de um renascimento...Aquilo que precisa morrer, simbolicamente.”
“quero muito escrever um texto ainda sobre a religião e a fome, em especial sobre o cristianismo.”
Tem um poema da Ruth Gibbs chamado "Faithful Food" em que ela termina ele dizendo "O primeiro pecado foi uma mulher comer". Desde que li isso e vi esse filme comecei a perceber diversas relações entre a culpa da alimentação e muitas questões religiosas”
“A figura do pássaro livre e na gaiola foi maravilhoso, e ela tinha que escolher no final algum, apesar da fixação da repetição… dessa sagrada repetição. Dentro, fora. Tem muitos simbolismos no filme e na relação que as personagens passam a ter. Da relação da família, da cidade, do fascínio de todos e da busca por essa santidade né? Da negação do corpo para ascensão do espírito.”
Você já assistiu esse filme?
Quero saber o que acharam das análises e comentários e se têm algo mais a acrescentar! Me contem nos comentários 🌻
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